Sílvio Ávila
Inor Ag. Assmann
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O Brasil vive em um ambiente multidi-
verso na cadeia produtiva de sementes. Da
biotecnologia ao tratamento industrial, pas-
sando pelos processos de melhoria con-
tínua nas unidades de beneficiamento na-
cionais, a semente que chega ao agricultor
Pedra no sapato
O fato de a biotecnologia estar inserida na semente cria uma condição única: o organismo semente está sujeito a duas legislações
distintas. O germoplasma está vinculado ao regramento previsto na Lei de Proteção das Cultivares, enquanto a biotecnologia às
normas da Lei de Propriedade Industrial. Com isso, uma parte da semente apresenta melhores níveis de proteção intelectual do que a
outra parte. Para o CEO da Céleres Consultoria, Anderson Galvão, essa é hoje uma das maiores fragilidades da indústria de sementes
brasileira. “Essa distorção acaba fragilizando toda a cadeia, em particular os produtores de sementes licenciados, que possuem menor
capacidade de exercer instrumentos e mecanismos de proteção intelectual dos seus negócios”, enfatiza.
Um longo
caminho
Descobertasnoâmbito
dabiotecnologia
vêmpossibilitando
constantesavanços
produtivospara
diferentescadeiasdo
agronegóciodoBrasil
brasileiro nos dias atuais em quase nada se
assemelha ao produto que era entregue
há pouco mais de 10 anos. “Hoje, definiti-
vamente, a semente consolidou-se como
uma ferramenta tecnológica, decisiva e fun-
damental para o sucesso da atividade agrí-
cola”, avalia o CEO da Céreles Consultoria,
Anderson Galvão. O maior avanço observa-
do nos últimos tempos, em sua visão, é o
ininterrupto crescimento do potencial pro-
dutivo de sementes no País.
“O organismo vivo que é entregue ao
produtor rural deve ser considerado como
um produto de alta tecnologia e qualida-
de", frisa. Não por acaso, aponta Galvão,
o valor da semente tem crescido ano após
ano, visto que esse insumo proporciona
maior produtividade e, em última instância,
rentabilidade para os homens do campo.
Na avaliação do consultor, o cenário para os
próximos anos continua sendo de otimismo.
Salienta o protagonismo dentro do sistema
produtivo agrícola, que demanda constantes
investimentos em pesquisa, desenvolvimen-
to, aspectos regulatórios e modelos de negó-
cio ao longo das cadeias produtivas.
No âmbito da biotecnologia, conforme o
presidente da Associação Brasileira dos Ob-
tentores Vegetais (Braspov), Ivo Carraro, a
técnica do DNA recombinante, que deu iní-
cio à era dos produtos transgênicos, ainda
pode ser considerada grande avanço e deve
continuar gerando muitos produtos impor-
tantes para a maior eficiência na agricultura.
“Porém, também se tem desenvolvido mui-
to as técnicas modernas de melhoramento
genético de plantas, como a fenotipagem de
precisão, para aumentar a eficiência da sele-
ção”, pondera. Associado a isso, surgem no-
vidades, como a Seleção Genômica Ampla,
ou Genomewide Selection (GWS).
Entre todos os avanços, um dos as-
pectos mais revolucionários é a CRISPR-
-Cas9. “É uma tecnologia de edição gêni-
ca que pode praticamente reescrever os
genes”, explica Carraro. Com isso, pode
ser usada para inserir resistências de for-
ma muito eficiente, bem como aumentar
a expressão de genes associados a tole-
râncias. “A tecnologia é nova e as poten-
cialidades são muito grandes", comenta.
O CEO da Céleres acredita que essa nova
vertente desponta como a mais promisso-
ra para os próximos anos, pois permite a
ativação ou a desativação de característi-
cas específicas do organismo.
“A CRISPR prevê agilidade no desen-
volvimento de novas variedades, além de
apresentar menores necessidades de in-
vestimento, o que a torna mais democrá-
tica e acessível a centros de pesquisa com
menores capacidades financeiras e de in-
fraestrutura”, destaca Galvão. Nesse senti-
do, defende o analista, é imperativo que
o marco regulatório de biotecnologia siga
em constante melhoria e adaptação, de-
correntes das inovações tecnológicas que
ocorrem no campo científico.