Jornal Emater Edição 6 - page 19

Foi graças ao Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvi-
mento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper)
que as famílias conseguiram instalar as placas solares.
ComaorientaçãodaEmater/RS-Ascar, cadaumdeles fez
projeto no valor de até R$ 10mil, a ser pago em10 anos.
Conforme o chefe do escritório da instituição emMostar-
das, Gustavo Chaves Alves, o ganho na qualidade de vida
dos pescadores é imensurável. “Eles estãomuito felizes. É
gente simples, que sempre teve uma rotinamuito sofrida.
Em2013, eram16 famílias que viviamda pesca artesanal
sem luz nomunicípio. Hoje, ainda são cinco, que também
devemseratendidasquandohouverdisponibilidadedere-
cursos.Agenteserealizavendoatransformação”,resume.
Como os pescadores não estão vinculados à rede elétrica
convencional, a luz solar captada pelas placas é convertida em
energia e armazenada embaterias, onde ummedidor informa
onível dacarga. Logicamente, quantomaiora incidênciadesol,
maiorageraçãodeenergia. Por isso, algunsoptamporadquirir
mais baterias paraampliar aautonomiada residência. Em lon-
gos períodos nublados ou de chuva, quando a conversão éme-
nor, os pescadores monitoram o nível das baterias e ajustam o
consumoconformeanecessidade,desligandoosfreezersduran-
te a noite, por exemplo. Geralmente, suas residências são uma
“auladesustentabilidade”,comtodososeletrodomésticosnoní-
veldeeficiênciaenergéticaA,do Inmetro.Nocasoderesidências
eempresasligadasaosistemageral,emvezdoarmazenamento
embaterias, o excesso de energia fotovoltaica vai para a rede e
geracréditosjuntoàempresadistribuidoradeenergia.
Como a energia solar
chegou até os pescadores
Como funciona no cotidiano
Num lugarejo chamado Porto dos Casais,
Vanir da Costa vive solteiro. Aos 55 anos, não
sabe ler nem escrever, mas interpreta como
poucos omar e o vento. Opescador, que her-
dou a profissão do pai, mora numa casa sim-
ples, de madeira, com geladeira e fogão, mas
semtelevisão.Achaoinvestimentomuitoalto.
AssisteTVnacasadoirmão,quemoraaolado.
Juntos, aderirama umconjunto de placas
fotovoltaicas em 2014 para abastecer as duas
casas. Oconsumodeenergiaé sempremode-
rado, paragarantir o funcionamentoplenodos
dois aparelhos que revolucionaram a vida no
lugar: o telefone celular e o freezer. O primeiro
serveparaavisaroscomercianteseatacadistas
seovolumedepescadofoibomesecompensa
a ida até lá para buscar o produto. O segundo
transformoua vidadeVanir edo irmãoaoper-
mitir que armazenemoque não foi comercia-
lizadoao longododia,dasemanaoudomês.
Antes de o sol fornecer energia, só restava
a resignação como prejuízo ou arriscar tem-
po e recursos para rodar 11 quilômetros até
o comprador mais próximo. "Agora, é outra
vida. Melhorou demais. Quem tem luz, tem
tudo", defineVanir.
NascidoemNovoHamburgoecrescidoem
Quintão, foi por opção que Adriano Cornely,
de44anos,resolveutornar-sepescadoreviver
comaesposaElisete(52),eofilhoMarcelo(18)
entre as dunas, num ponto isolado do litoral,
nas imediações do vilarejo de São Simão, dis-
tante vários quilômetros do centro deMostar-
das. Quempassa pela praia deserta é incapaz
de imaginar que um ambiente como o da fa-
mília possa estar escondido a apenas alguns
metrosdomar, atrásdosmontesdeareia.
Considerando a realidade da maioria dos
pescadores artesanais, a família vive bem. A
casa de alvenaria e o carro para transportar
o pescado beiram o luxo para os padrões lo-
cais, assim como as pequenas embarcações,
usadas tanto para a pesca marítima quanto
de água doce. Apesar de toda esta estrutura,
osCornelyviveramatésetembrode2016sem
energia elétrica. Assim como os demais pes-
cadores, dependiamde baterias automotivas
recarregadas diariamente no vilarejo próxi-
mo. Emdiasdegrandevolumedepeixes, não
restava outra opção. Adriano pegava o carro
e rodava quase 70 quilômetros pela beira da
praiaatéobalneárioQuintãoparabuscar gelo
eguardaropescado.
Hoje, quando isso acontece, eles ainda se
deslumbram com o conforto da armazenar a
produçãonofreezer,compradonomesmodia
da instalação da energia solar. "Nossa renda
aumentou cerca de 100% porque a despesa
diminuiumuito. A gente gastava demais para
ter energia. Agora, até água encanada temos,
commotorzinhopequeno.Cortamosos filése
podemosarmazenar", conta, realizado.
O sol que congela
O celular de Vanir
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