Revista AgroBrasil 2017-2018 - page 57

E
m um País com problemas es-
truturais tão grandes quanto
sua dimensão territorial, desa-
fios logísticos é que não faltam.
A assessora da Comissão Nacio-
nal de Infraestrutura e Logística da Confe-
deração da Agricultura e Pecuária do Bra-
sil (CNA), Elisangela Pereira Lopes, acredita
que é preciso um planejamento estratégi-
co, deEstadoenãode governo, paraque as
obras tenham continuidade e possammu-
dar a realidade do transporte dos produtos
do agronegócio e da indústria nacionais. E
exemplos não faltam de investimentos que
ficaram literalmente parados no tempo,
como a Eclusa de Tucuruí, no Pará.
Inaugurada em 2010, depois de mais de
30 anos de obras, a estrutura continua subu-
tilizada e somando despesas, uma vez que
o Pedral do Lourenço, conjunto de rochas
ao longo de 43 quilômetros da Hidrovia Ara-
guaia-Tocantins, impede a passagemde em-
barcações comerciais. “Desde sua inaugu-
ração, em 2010, já custou R$ 25 milhões aos
cofrespúblicos.Umalicitaçãofoifeitaem2015
para retirar as pedras e tornar o trechodeMa-
rabá(PA)aosportosnavegáveldurantetodoo
ano,mas, devido a atrasos na obra, a conclu-
sãoestáprevistaapenaspara2022”, frisa.
A economista aponta ainda a falta de or-
çamento público ou de segurança jurídica
para que as empresas possam investir em
infraestrutura no Brasil. Lembra também os
altos custos de transporte, que chegam a
ser 40% superiores na comparação com ou-
tros países. São despesas que se devem, em
grande parte, às condições precárias das es-
tradas.“Atualmente,quase62%dasrodovias
do País apresentam algum problema”, pon-
dera. O estado calamitoso aumenta o cus-
to rodoviário em pelo menos 30%, segundo
levantamento da Confederação Nacional do
Transporte (CNT). Quando se trata da região
Norte, essepercentual chegapertodos 34%.
Para Elisangela, é fundamental garantir a
pavimentação, a manutenção, a duplicação
ou a solução (como a implantação de tercei-
ras faixas nas estradas), com a finalidade de
promoversegurançaviáriaemaiorfluidezdo
trânsito. Outras ações incluemviabilizar a in-
tegração entre diferentes modais viários, au-
mentar a oferta portuária e concretizar obras
de inestimável relevância, como a Ferrovia
Norte-Sul (ainda falta ser concluídoemtorno
de 10%da obra, no trajeto situado entre São
Paulo e Tocantins), e, mais importante ain-
da, garantir a inclusão dos mecanismos de
competitividadenoscontratosdeconcessão,
como Direito de Passagem e Operador Fer-
roviário Independente. Enquanto isso, a BR-
020 (entre Brasília e Fortaleza, no Ceará, pla-
nejadahá60anos, atéhojenão foi finalizada:
são 812 quilômetros ainda semasfalto e que
oneram os custos de frete para os agriculto-
res, que precisampercorrer 520 quilômetros
amaisparadesviar daestradade terra.
Diante da perspectiva de uma situação
insustentável, Elisangela acredita que o re-
cente lançamento de projetos importantes
em nível governamental possa represen-
tar alento. O Programa Avançar, apresen-
tado pelo governo federal em 2017, tem o
objetivo de finalizar obras que estão parali-
sadas em todo o País. Já o Programa Cres-
cer visa facilitar oacessoao créditonos ban-
cos públicos federais (BancodoBrasil, Caixa
Econômica, Banco da Amazônia e Banco do
Nordeste) paraprojetos a seremconcedidos
à iniciativa privada. “Esses projetos não ne-
cessariamente serão priorizados ou execu-
tados na velocidade em que deveriam, mas
são ações importantes. Agora, resta esperar
que os prazos sejam cumpridos e que des-
pertemo interessedos investidores.”
Gargalos logísticos doBrasil incluemobras
inacabadas, reparos estagnados e investimentos
prioritários ainda por seremtirados dopapel
Atualmente, quase 62%das rodovias
do País apresentamalgumproblema
l
PERFIL
Emuma área praticamente domina-
daporhomens,ElisangelaPereiraLopes
define-se com uma apaixonada e entu-
siasta pelo seu trabalho. Formada em
Ciências Econômicas pelo Centro Uni-
versitário do Distrito Federal (UniDF), é
mestre pelo Programa de Pós-Gradu-
ação em Transportes da Universida-
de de Brasília (PPGT/Unb), da Faculda-
de de Tecnologia (FT). Possui interesse
em estudos, metodologias e ferramen-
tas que forneçam suporte à regulação/
regulamentação da atividade econômi-
ca de transporte. Atualmente, trabalha
na Confederação da Agricultura e Pecu-
ária doBrasil (CNA), na ComissãoNacio-
nal de Logística e Infraestrutura. Tam-
bémé representantedaCNAnaCâmara
Temática de Logística do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to (CTLOG/Mapa) e no Grupo de Traba-
lho criado pela Portaria Interministe-
rial nº 231/2013, do Mapa, para estudar
os gargalos em infraestrutura e logísti-
ca presentes no escoamentoda safra de
grãoseoutrosprodutosdoagronegócio.
É professora de Logística e Suprimen-
tos do Curso Superior de Tecnologia em
AgronegóciodaFaculdadeCNA.
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