Revista AgroBrasil 2017-2018 - page 61

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FOCO EXTERNO
No sentido da defesa comercial, a CNA enfatizou ações em
2017, além de discussões sobre questões qualitativas do leite,
diante de mudança de regulamentação que ocorrerá em 2018. Há
interesse nacional em diminuir importações e ampliar exporta-
ções, o que ainda não se concretizou na medida desejada. No ano
em referência, as entradas foram reduzidas (29,5% em volume e
11,1% em valores, até novembro, com 157,3 mil toneladas e US$
516,8 milhões), mas também as vendas ao exterior foram meno-
res (em respectivos 28,3% e 33,8%, para 33,8 mil toneladas e US$
95,7 milhões), mantendo ainda um alto déficit.
O propósito de aumento da comercialização externa de produ-
tos lácteos é manifestado por vários organismos públicos e priva-
dos ligados ao segmento. Ao assumir novo mandato à frente do
Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindi-
lat/RS), emdezembro de 2017, Alexandre Guerra, por exemplo, dis-
se que sua meta nos próximos três anos é dar condições para que
as indústrias possam exportar, atingindo a marca de 10% da pro-
dução estadual com esse destino. Destacou que há mais de 30 pa-
íses com mercado aberto aos lácteos brasileiros, “um potencial a
ser aproveitado”. Por outro lado, manifestou expectativa de recu-
perar o consumo interno, com previsão de expansão da economia.
Esta mesma perspectiva foi expressa pela CNA, para fazer frente
aos preços baixos, ao mesmo tempo em que traz preocupação ainda
com aumento de custos, que voltou a se manifestar, commaior valo-
rização de grãos usados na alimentação do rebanho. Este foi reduzido
em2%ao ano entre 2010 e 2017 (em2016 eram19,6milhões de cabe-
ças), enquanto a produtividade cresceu 4% por ano. Ainda no Cepea,
foi observado que, diante da recente diminuição de receita, muitos
produtores deixarama atividade e outros não farão investimentos im-
portantes, oquepoderá levar à reduçãodaofertadoprodutoem2018.
Em 2015 e em 2016, conforme o Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), houve decréscimo de respectivos
1,6% e 2,8% na produção, enquanto no úl-
timo ano, commelhoria na relação de tro-
ca entre preços de leite e insumos, ocor-
reu mais uma vez alta nos volumes, como
verificou o Cepea. Em novembro de 2017,
os analistas Natália Grigol e Lucas Ribeiro,
deste centro, com base em acréscimos de
captação da indústria (3,7% no primeiro
semestre, pelas pesquisas do IBGE na pro-
dução sob inspeção, e de 7,5% até setem-
bro, segundo índice do próprio Cepea), cal-
culava possibilidade de o ano fechar com
aumento na faixa de 4%. Assim, o total po-
deria chegar próximo a 35 bilhões de litros.
Na Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab), a analista Maria Helena
Fagundes, por sua vez, previa em setem-
bro que a ampliação seria no patamar de
1%, com o que a quantidade final do ano
ficaria ainda ao redor de 34 bilhões de li-
tros. Considera que um aumento maior
seria limitado pela redução dos preços ve-
rificada desde junho, aumento de esto-
ques e lenta recuperação da economia,
que está afetando a demanda. Este pro-
blema é destacado também em análise
da Confederação da Agricultura e Pecuá-
ria do Brasil (CNA), observando que o con-
sumo ainda não reagiu, e pelos técnicos
do Cepea, ao informarem que o consu-
mo aparente de lácteos
per capita
já caiu
2,2% entre 2013 e 2016.
“A menor procura, ocasionada pela
redução do poder de compra do brasilei-
ro diante da crise econômica, vem der-
rubando os preços em todos os elos da
cadeia e comprometendo as margens,
tanto da indústria quanto do produtor”,
avaliaram Natália e Lucas, do Cepea, em
novembro de 2017. Por isso, reforçaram
a necessidade de tratar do estímulo ao
aumento no consumo e de cobrar me-
didas correspondentes à importância
do setor, que rendeu R$ 39 bilhões aos
produtores em 2016. Mencionou a sus-
pensão de importação de leite em pó do
Uruguai, depois revertida, além da libe-
ração de recurso para o estoque de leite
e avaliação de mecanismos de preço mí-
nimo, recuperação de créditos e cotas de
importação uruguaia.
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